Não fiquemos petrificados por esse apagamento que é muito frequentemente tomado como o centro do tempo, como o olho dum ciclone: se tal ou tal momento apaga-se, não é porque o imenso Cronos de Goya o está devorando; é porque um outro esta tomando seu lugar. E o fato da novidade que o faz obsoleto. Numa palavra, o futuro passa o presente; e sem o futuro, o presente duraria até que uma novidade verdadeira o substituisse. Como mutação, o tempo cria sem nunca destruir. É criando que o tempo passa.
O tempo não é a queda, regular e fatal, de cada presente no passado. Aqueles que o acham confundem o tempo com uma velha torneira que deixaria fugir, gota a gota, o ser no nada. O próprio do presente, infelizmente – vocês podem perguntar a aqueles que sofrem, a todos os homens – é de durar. Por ele mesmo, o presente não tem nenhuma tendência a desaparecer. Várias vidas de luta são necessárias para obrigar um presente a tornar-se passado. Quanto tempo duraram o franquismo, o stalinismo ou o apartheid? O presente, qualquer presente, pelo simples fato de ser, sempre tem vários beneficiários que de fato aliaram-se para estabelecê-lo, e concordam emfazê-lo durar. Várias vezes, eles esforçam-se, com o maior sucesso, para que a maioridade dos seres humanos tornem-se os beneficiários medíocres ou imaginários do ordem corrente. A consequência invariável é que a quase totalidade dos presentes, tão fundamentalmente injustos quanto poderiam ser, estão defendidos não só pelos privilegiados e suas polícias, mas também pela maioridade dos homens, com essa energia passiva que é, de longe, a maior das forças humanas.
Translated by Chloé Galibert-Lainé