Será que viver é aceitar inexistência? Aceitar e tremer, suando do medo de existir como que inadvertidamente? Explorar a sua própria vergonha, crucificar-se, reduzir a sua superfície, aceitar a humiliação, enroscar-se, pedir desculpas várias vezes? Ninguém pode contentar-se com a inexistência. Quer dizer que alguém pode desejá-la, mas não ser feliz com ela, por essa razão ela deixa intacto o único problema humano: a inexistência não afasta o sofrimento.
Então nós temos que existir. É um ato imprudente, como qualquer insurreição. Todas as sabedorias correntes desaconselham formalmente tal tentativa. Todos os poderes correntes tomaram precauções. Se eu decidir ignorar os conselhos e as ameaças, o mínimo que eu deveria fazer para existir não seria cavar um momento e um lugar no espaço e no tempo?
Translated by Chloé Galibert-Lainé